Quando o
assunto é trabalhar meio ambiente e fazer da escola um espaço sustentável, é
comum achar que isso implica em reformas na estrutura física do prédio e altos
investimentos. Não é bem assim. O fundamental é permitir que os alunos incorporem
ao cotidiano atitudes voltadas à preservação dos recursos naturais.
"As
crianças precisam iniciar esse processo desde cedo. Não basta falar e ensinar
apenas com livros", diz Lucia Legan, autora do livro A Escola Sustentável,
pedagoga e diretora do Instituto de Permacultura e Ecovilas do Cerrado
(Ecocentro Ipec), em Pirenópolis, a 120 quilômetros de Goiânia. Também não
adianta fazer um projeto de combate ao desperdício da água e deixar torneiras
vazando e mangueiras abertas no jardim da escola.
Ser
ecologicamente sustentável significa apostar num desenvolvimento que não
desrespeite o planeta no presente e satisfaça as necessidades humanas sem
comprometer o futuro da Terra e das próximas gerações. Tal postura se enquadra
no conceito de permacultura, criado em 1970 e segundo o qual o homem deve se
integrar permanentemente à dinâmica da natureza, retirando o que precisa e
devolvendo o que ela requer para seguir viva. Parece complicado, mas pode ser
posto em prática com ações simples, como não desperdiçar água, cultivar áreas
verdes e preferir produtos recicláveis.
Sabe-se que,
em pequena escala, tais procedimentos não revertem os danos causados ao meio
ambiente, porém têm grande impacto na rotina escolar. "Temos consciência
de que as iniciativas da escola são fundamentais para promover a
conscientização dos alunos, os futuros adultos que tomarão conta do
planeta", afirma Neide Nogueira, coordenadora do programa de Educação
Ambiental do Centro de Educação e Documentação para Ação Comunitária (Cedac), em
São Paulo.
ALFABETIZAÇÃO ECOLÓGICA: UM PROJETO QUE MOBILIZA TODA A EQUIPE
A Educação
Ambiental é um dos temas transversais dos Parâmetros Curriculares Nacionais
(PCNs), do Ministério da Educação (MEC). Ela garante que os alunos aprendam a
tomar decisões sustentáveis, num processo chamado de ecoalfabetização. "A
sustentabilidade se apoia no cuidado com as pessoas, a Terra e os recursos
naturais. Esses eixos estão na escola e cabe ao diretor mobilizar a comunidade
em torno deles", diz Sueli Furlan, docente da Faculdade de Filosofia,
Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (USP) e selecionadora do
Prêmio Victor Civita - Educador Nota 10.
Os gestores
podem iniciar o processo, envolvendo funcionários e famílias do entorno. As
faxineiras, por exemplo, devem atentar ao descarte de lixo e produtos de
limpeza e ao bom uso de água e energia. Já aos professores fica a tarefa de
discutir as várias questões ambientais com os conteúdos das disciplinas.
"Tudo isso passa à comunidade a mensagem de que a escola se preocupa com a
Terra", afirma Neide.
Foi nessa
mobilização que investiu a diretora Iolanda José Naves, da EE Comendador
Joaquim Alves, em Pirenópolis, com a ajuda do Ecocentro Ipec. Os alunos
estudaram o assunto e, em seguida, fizeram desenhos sobre como gostariam que a
escola fosse em termos ambientais. Surgiram elementos como coletores de chuva,
ainda não implantados, e a ampliação das áreas verdes, aspiração já
concretizada.
Hoje, 600
alunos do 6º ao 9º ano cuidam do descarte de resíduos, mantendo uma composteira
com a ajuda dos professores, e do cultivo de árvores, participando de projetos
de reflorestamento do entorno. Também auxiliam a equipe a separar o papel que
será encaminhado para a reciclagem e combatem o desperdício de comida, água e
energia.
Transformar
valores e atitudes cotidianas requer cuidado especial por parte da gestão. É um
erro comum, por exemplo, tocar no assunto apenas em datas comemorativas.
Campanhas de reciclagem também devem ser vistas com bastante cautela, pois
promovem concursos que premiam quem mais reúne garrafas PET ou latas de
alumínio - longe de ser uma atitude sustentável, elas acabam promovendo o
consumo desnecessário. "A criança não deve separar o lixo para vencer uma
aposta, mas por ser essa uma postura essencial para o meio ambiente",
afirma Neide. Outras ações nada eficazes são ensinar apenas com palestras e
projetos tão complicados que acabam sendo abandonados.
A questão
ambiental é um assunto cada vez mais em pauta na sociedade e ela pode estar
integrada às práticas cotidianas de uma escola. Esse, segundo Lúcia Legan, é o
jeito mais eficaz de transmitir o aprendizado necessário sobre meio ambiente e
sustentabilidade. Confira o projeto institucional elaborado com base nas
iniciativas desenvolvidas na Comendador Joaquim Alves e em outras escolas de
Pirenópolis, em parceria com o Ecocentro Ipec.
Por: Noêmia Lopes
Por: Noêmia Lopes
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